sexta-feira, 11 de maio de 2012

Pã e Lupércio ou Lupercus

      É o deus dos bosques, dos campos, dos rebanhos e dos pastores,é o protetor do rebanho que ele tem por missão fazer multiplicar. Residia em grutas e vagava pelos vales e pelas montanhas, caçando ou dançando com as ninfas. Era representado com orelhas, chifres e pernas de bode. Amante da música, trazia sempre consigo uma flauta. Era temido por todos aqueles que necessitavam atravessar as florestas à noite, pois as trevas e a solidão da travessia os predispunham a pavores súbitos, desprovidos de qualquer causa aparente e que eram atribuídos a Pã; daí o nome pânico.Os latinos chamavam-no também de Fauno e Silvano.
     Tornou-se símbolo do mundo por ser associado à natureza e simbolizar o universo. Em Roma, chamado de Lupércio, era o deus dos pastores e de seu festival, celebrado no aniversário da fundação de seu templo, denominado de Lupercália, nos dias 15, 16 e 17 de fevereiro. Pã foi associado com a caverna onde Rômulo e Remo foram amamentados por uma loba. Os sacerdotes que o cultuavam vestiam-se de pele de bode.
      Em algumas versões era filho de Hermes(deus da fertilidade, dos rebanhos, da magia, da divinação, das estradas e viagens,mais tarde tornou-se mensageiro dos deuses),o hino homérico que fala sobre o nascimento de Pã "Hermes chegou à Arcádia fecunda em rebanhos; ali se estende o campo sagrado de Cilene; nesses páramos, ele, deus poderoso, guardou as alvas orelhas de um simples mortal, pois concebera o mais vivo desejo de se unir a uma bela ninfa, filha de Dríops. Realizou-se enfim o doce o doce himeneu. A jovem ninfa deu à luz o filho de Mercúrio, menino esquisito, de pés de bode, e testa armada de dois chifres. Ao vê-lo, a nutriz abandona-o e foge. Espantam-na aquele olhar terrível e aquela barba tão espessa. Mas o benévolo Mercúrio, recebendo-o imediatamente, pô-lo ao colo, rejubilante. Chega assim à morada dos imortais ocultando cuidadosamente o filho na pele aveludada de uma lebre. Depois, apresenta-lhes o menino. Todos os imortais se alegram, sobretudo Baco, e dão-lhe o nome de Pã, visto que para todos constituiu objeto de diversão."
     As ninfas zombavam incessantemente de Pã em virtude do seu rosto repulsivo, e o infeliz deus, ao que se diz, tomou a resolução de nunca amar. Mas Cupido é cruel e afirma uma tradição que Pã, desejando um dia lutar corpo a corpo com ele, foi vencido e abatido, diante das ninfas que se riam.
     Um dia percorria Pã o monte Liceu, segundo o seu hábito, e encontrou a ninfa Syrinx que jamais quisera receber as homenagens das divindades e que só tinha uma paixão: a caça. Aproximou-se dela, e como nos costumes campestres se vai imediatamente ao objetivo, sem nenhum artifício, sem nenhum desvio, disse-lhe: "Cedei, formosa ninfa, aos desejos de um deus que pretende tornar-se vosso esposo." Syrinx,rejeitou com desdém o seu amor, recusando-se a aceitá-lo como seu amante pelo facto de ele não ser nem homem, nem bode.Desatou a correr,Pã então perseguiu-a, mas Syrinx, ao chegar à margem do rio Ladon e vendo que já não tinha possibilidade de fuga, pediu às ninfas dos rios, as náiades, que mudassem a sua forma. Estas, ouvindo as suas preces, atendem o seu pedido a transformando em bambu. Quando Pan a alcançou e a quis agarrar, não havia nada, excepto o bambu e o som que o ar produzia ao atravessá-lo.Quando, ao ouvir este som, Pã ficou encantado, e resolveu então juntar bambus de diferentes tamanhos, inventando um instrumento musical ao qual chamou syrinx, em honra à ninfa. Este instrumento musical é conhecido mais pelo nome de Flauta de Pã, em honra ao próprio deus.Em algumas variantes desse mito,foi o pai de Syrinx que vendo a filha encurralada pelo deus Pã mandou que as ninfas ajudassem a irmã,transformando-a em caniço.
    Outra história que envolve Pã é a da transformação da ninfa Pítis.Os melodiosos acordes fazem acorrer de toda parte as ninfas que vêm dançar em volta do deus chifrudo. A ninfa Pítis parece tão enternecida que Pã renasce com a esperança e crê que o seu talento faz com que seja esquecido o rosto. Sempre tocando a flauta de sete tubos, começa a procurar lugares solitários e percebe, finalmente, um rochedo escarpado no alto do qual resolve sentar-se. Pítis segue-o. Para melhor ouvi-lo, aproxima-se cada vez mais, tanto que Pã, vendo-a bem perto, julga o momento oportuno para lhe falar. Não sabia o infeliz que Pítis era amada por Bóreas, o terrível vento do norte, que naquele instante soprava com grande violência. Vendo a amante perto de um deus estranho, Bóreas foi acometido de um acesso de ciúme furioso, e, não se contendo, soprou com tal impetuosidade que a ninfa caiu no precipício, e despedaçou contra as pedras o formoso corpo, imediatamente transformado pelos deuses em pinheiro. Foi depois disso que essa árvore, que traz o nome da ninfa (Pítis significa, em grego, pinheiro) foi consagrada a Pã, e é por esse motivo que nas representações figuradas, a cabeça de Pã está muitas vezes coroada de ramos de pinheiro.
     O destino de Pã era amar sempre sem que nunca lograsse unir-se à criatura amada. Continuando a fazer música na montanha, ouviu, saída do fundo do vale, uma terna voz que parecia repetir-lhe os acordes. Era a voz da ninfa Eco, filha do Ar e da Terra. Desceu, então, para procurar a que lhe havia respondido, sem nunca poder atingi-la, embora ela lhe respondesse constantemente; a cruel ninfa parecia rir-se dele. Mas, francamente, ninguém a pode censurar por isso. Quando se ama o belo Narciso, como é possível encarar o velho Pã? Pã é sempre velho, apesar de ter tido por pai Mercúrio, que é eternamente jovem.
     O deus Pã, assim chamado, diz-se da palavra grega pã, que quer dizer tudo, era filho, segundo uns, de Zeus e da ninfa Timbris, segundo outros de Hermes e da ninfa Penélope. Dizem outras tradições que era filho de Zeus e da ninfa Calisto, ou talvez do Ar e de uma Nereida, ou finalmente do Céu e da Terra. Todas essas diversas origens têm uma explicação, não só no grande número de deuses com esse nome, mas ainda nas múltiplas atribuições que a crença popular emprestava a essa divindade. O seu nome parecia indicar a extensão do poder, e a seita dos filósofos estóicos identificava Pã com o Universo, ou ao menos com a natureza inteligente, fecunda e criadora.
     Pã foi muitas vezes confundido na literatura latina com Fauno e Silvano. Muitos autores os consideravam como um só divindade com diferentes nomes. As Lupercais eram mesmo celebradas em tríplice honra desses gênios. Entretanto Pã é o único de quem se fez alegoria e que foi considerado como um símbolo da Natureza, conforme a significação do seu nome. Dizem os mitólogos que os seus chifres representam os raios do Sol; a vivacidade de sua tez exprime o fulgor do céu; a pele de cabra estrelada que usa sobre o estômago representa as estrelas do firmamento; enfim os seus pés e as suas pernas eriçados de pêlos designam a parte inferior do mundo, - a terra, as árvores e as plantas.
   

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